segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Le quiche du mai".

A bem da verdade é que foi mais fácil dizer que estava começando, sem começar de fato. Pensei muito sobre qual receita deveria vir primeiro, qual seria a melhor história a ser contada. Boa parte das minhas histórias interessantes tiveram pelo menos algum momento da trama na cozinha, seja um amigo novo que se faz entre o vinho e o molho, ou algum fim - trágico ou não - quando tudo que me resta é tentar um banquete. São tantas receitas, tantas histórias, mas é difícil puxar o fio. Não me lembro da primeira coisa comível que eu cozinhei, não me lembro da primeira grande refeição, não me parece que tenha um início só, mas muitos deles.

Por isso, resolvi puxar o gancho que o post inicial me deixou: a abobrinha. Não me lembro como a nossa relação começou, minha e da abobrinha, mas lembro que havia um tempo em que ela era o coringa da nossa geladeira: não importa qual fosse o clima do dia, sempre haveria um bom motivo para usá-las.

E o clima daquele dia era a Festa da Nadine, com letras maiúsculas mesmo. É um evento anual, na qual essa amiga queridíssima comemora o seu aniversário e, mais que isso, acaba por juntar gente que se gosta, mesmo, mas só se vê uma vez por ano, ali. São festas temáticas e cada um de nós, convidados, é encarregado de levar um prato (e algumas garrafas).

Naquele ano, eu estava perfeitamente sem dinheiro. Primeiro ano de faculdade, greves, movimento estudantil... eu não tinha muito tempo para essa rotina capitalista de empregos, estava ocupada demais com as minhas próprias revoluções - e elas não eram poucas. O tema era "Maio de 68", nada melhor que um prato francês. Mas como fazer um prato francês com pouco dinheiro em quantidades festivas? Não me lembro se recorri a um livro de receitas ou se eu tive um insight: quiche! Mas do quê? ... Abobrinha.

Decidido o prato, faltava saber como fazê-lo. Achei uma receita simples para a massa, e resolvi me dedicar ao recheio. Foi aí que eu telefonei para o 'chef-amigo', que mora em outro estado, pra saber como temperar a abobrinha. "Cardamomo e noz-moscada".

Vamos a ela.

Recheio:

- 3 ou 4 abobrinha cortadas em tiras

- 1 cebola

- alguns dentes de alho

- champignons fatiados

- noz-moscada moída

- cardamomo moído

- pignolis (que também pode ser substituído por castanha-do-pará picada)

- pimenta-do-reino

- parmesão ralado

A primeira coisa a se fazer é fritar - no azeite - a cebola, o alho, o champignon e os pignolis (o ideal é colocar cada um em um tempo, pois a cebola doura mais devagar que o alho; o champignon e os pignolis mais rápido que os dois primeiros). Depois, acrescente a noz-moscada; o cardamomo (a maneira mais fácil de 'moer' a noz-moscada é num ralador simples de cozinha e o cardamomo pode ser triturado com uma colher e um pouco de paciência) e a pimenta-do-reino. Desligue o fogo e acrescente aos poucos a abobrinha, sempre mexendo com cuidado, para que toda ela fique molhada com os temperos. Deixe tampado, enquanto faz a massa (se o descanso for de algumas horas, o resultado é ainda mais bacana).

Massa:

- manteiga (se você quiser uma receita vegan, pode usar margarina)

- farinha

- pouco sal

- um tantinho de água quente

Não tenho quantidades exatas. Cerca de 1 medida de manteiga para cada 2 de farinha, e o sal é só pra dar uma vaga ideia de salgado, não deve aparecer muito. Amasse com as mãos, e o ponto é quando a massa estiver 'lisa', descolando das mãos. A água deve ser bem pouca, apenas para garantir que a massa não fique muito farinhenta. Deve ser aberta numa refratária redonda, de modo a ficar fina e 'sobrar' para além da forma, que será dobrada para dentro, para o 'acabamento'. Para o recheio, alterne uma camada de abobrinha com uma de parmesão - garantindo que a última seja de queijo - dobre a massa que sobrou para dentro e leve ao forno pré-aquecido, temperatura média-alta (cerca de 220ºC). Uns 30 minutos depois, a massa estará dourada, solta do fundo (o que você conseguirá ver). Retire do forno e deixa esfriar por aproximadamente 15 minutos, para que no momento de servir ela não desmanche.

Pode ser servida com arroz branco e salada verde - ou de tomates.


O prato, que em teoria não é uma quiche, foi batizada de "Quiche du Mai" e fez o maior sucesso, tanto nessa como em outras aparições. É um dos meus pratos queridinhos, por ser rápido e simples. Na teoria da cozinha, para ser uma quiche ela deveria ter uma base cremosa, com ovos e etc. Chamem-na de 'torta de abobrinha', se quiserem, mas no meu coração ela sempre será o sucesso culinário do meu 68.

E obrigada a quem leu, e pediu receita, juro que serão atendidas. Voltem sempre.

2 comentários:

Michelle, disse...

e a receita de bolo de esterela?

Unknown disse...

Esse teu talento na cozinha conheço desde de menina, já pequenina inventava suas receitinhas. Lembro-me de suas experiencias e agradinhos sempre gostosinhos.
Matei a saudade neste carnaval, as delicias foram varias... agua, cerveja, e uma puta batata.

beijos

te amo

Eleni